A morte é um assunto muito difícil até
mesmo para os adultos. Falar sobre o tema é ainda mais delicado, quando a
necessidade é explicar aos filhos o que isso significa. As crianças precisam de
apoio e sinceridade nos momentos em que devem encarar esse tipo de perda.
As psicólogas do Grupo Terapêutico
Núcleo Corujas, Luciana Romano e Raquel Benazzi, selecionaram algumas dicas
para facilitar o diálogo a respeito do tema. As especialistas afirmam que é necessário
aprender a lidar com esse sentimento de perda e frustração desde a infância
para o melhor entendimento do tema ao longo da vida.
Qual
é o melhor momento para falar sobre morte com as crianças?
O ideal é que seja por um
questionamento ou, de fato, um acontecimento. Porém, é de extrema importância
que ela entre, aos poucos, em contato com esta temática, algumas atividades
podem ajudar, por exemplo: plantar sementinhas e ver que elas nascem se desenvolvem
e morrem e assim, deixá-la perceber o que acontece com a planta após ela
morrer. Comumente surgem perguntas como: “Ela vai voltar? Posso replantar? Ela
ainda vai beber água?”. Para a criança que ainda está ligado ao mundo da
fantasia, essas situações a ajudam a entender que a morte é algo irreversível,
assim, com certeza vão criar instrumentos internos para lidar com isso ao longo
da vida.
Em
casos de morte de parentes, ou animais de estimação, muitos pais optam por
inventar histórias e contar algumas mentiras para aliviar a dor dos filhos.
Como os pais devem agir nesses casos?
Contar mentiras nunca é o mais
apropriado, pois faz com que a morte seja algo que deva ser ocultado e revela a
própria dificuldade do adulto em falar do assunto com naturalidade. Não tenha
medo de usar a palavra “morte” com a criança, essa angústia é do adulto não
dela. A morte é um processo natural da vida, e deve ser tratada como tal.
Quando ocorrer uma morte, a pior conduta a se tomar é criar histórias ou
mentiras para aliviar a dor. A dor é inevitável e é preciso que a criança saiba
disso, pois com certeza a vida mostrará isso a ela com o tempo.
Por isso, primeiramente os pais devem
responder a eles mesmos “O que é morte” e lembrar que a criança é mais
concreta, portanto, para ela é difícil fazer uso de metáforas, como: “vovô está
no céu”, “dormiu para sempre” ela pode criar muitas fantasias e começar a
sentir medo de dormir, ou de ver os pais dormindo. Outro ponto muitíssimo
importante é atentar-se para responder exatamente àquilo que a criança
perguntou, não antecipe questões que ela não se interessou. Por exemplo: se ela
perguntar: “o que aconteceu com o vovô?”, responda a verdade, de forma honesta
e carinhosa, mas não fale sobre demais questionamentos que podem ser do próprio
adulto neste momento.
Você pode dizer que entende a morte de
determinada maneira, mas que não existe resposta certa, cada um encontra àquela
que acredita. Caso não saiba responder, seja franco e diga “isso a mamãe não
sabe responder, o que será que podemos pensar filho?”. Afinal, a morte sempre
foi e ainda é um mistério para todos.
Hoje existem muitos livros que ajudam
a falar da morte, contam sobre perdas de animas, avós. Se desde o início a
morte for tratada como natural, a criança poderá compreender esse momento como
uma fase da vida e aprender a lidar com isso com menos sofrimento.
Como
os pais devem abordar o tema? Há algum método que possam indicar?
Muitas vezes a própria criança
perguntará sobre. Caso não ocorra, deve ser abordado quando ocorrer na família
ou quando estiver na iminência de acontecer, como doenças e internações. Abra
espaço para as dúvidas e expressão!
Qual
é a melhor idade para iniciar essa discussão?
Se isso nunca ocorreu na sua família,
já deve ter ocorrido na família de algum amigo de seu filho e ele irá trazer o
assunto à tona em casa e terá que ser discutido. Alguns desenhos falam sobre a
morte como o Bambi e O Rei leão, eles fazem com que a criança entre em contato
com a temática. Se quiser trazer essa discussão para a família, a idade mais
apropriada é a partir dos sete anos de idade, na fase escolar, quando a criança
está com o desenvolvimento psíquico mais amadurecido para absorver suas informações
e compreender o caráter irreversível e universal. Porém, essa questão deve
partir da criança ou de uma situação real que ela está vivendo.
É
indicado levar os filhos em rituais como velórios, enterros?
Os rituais da morte ajudam no processo
de luto, dão conforto, sinalizam a finalização da vida e trazem maior
entendimento psíquico para todos, inclusive as crianças. Quando os pequenos vão
a algum ritual, deve-se primeiro perguntar se ela deseja ir e explicar como
será a cerimônia, para ela decidir se quer ou não ir.
Depois acompanhe a criança o tempo todo
e veja como ela se comporta se precisa de apoio e explicações. Fique atento e
sempre tente tratar o assunto com naturalidade. Não minta e não esconda o seu
sofrimento, eles fazem parte do ritual. Se decidir levar seu filho em um
velório, esteja disponível para ir embora no momento em que ele quiser, pois
ele assim mostrará seus limites.